quarta-feira, 23 de março de 2011

volatilidade... efemeridade... vida...


Tudo é tão volátil!

A chuva que durante a noite foi caindo ou o Sol que ainda há pouco rasgava os céus com o seu calor e que entretanto também já murchou.
A felicidade que se esvai no próximo suspiro, ou a tristeza que se esfuma no próximo sorriso... entre um e outro pode existir apenas o tempo de um pestanejar...
Às vezes, sinto que se me rasga o peito numa dor sem fim, uma dor boa de sentir... para no segundo seguinte se agudizar numa dor doída e sofrida de ausência, de vazio...
Procuro transformá-la em grito, sinto até a dilatação dos pulmões num impulso de grito... que sai mudo, e se retraem os lábios e a boca à posição de fechada, mesmo sem perceber o que acabou de acontecer... e dói...
Outras vezes, sinto que me assomam as lágrimas perante a beleza e a essência dos sentimentos tão sentidos, tão bonitos, ou apenas de um local, de um pensamento, de uma paisagem, de uma fotografia, de um momento, de uma memória... Que lágrimas boas que me enchem a alma de alegria e felicidade de existir, de me saber, para logo se transformarem em lágrimas de sangue por tudo o que sinto que é tão grande, tão grande que não cabe em mim... tenho de repartir... 
Vezes há ainda, em que sinto vontade de rasgar o horizonte com punhais de esperança, para logo de seguida a esperança me escapar, quais grãos de areia numa ampulheta... tudo é tão volátil... ...as certezas de que duvido e até as dúvidas de que tenho certeza...
Os silêncios são ensurdecedores, mas por vezes mudos e iluminados pela escuridão, inundados de poesias e pintados com as cores do arco-íris. Silêncios de sons compassados como um mar que se espraia em areias de mil cores, ou chicoteado em fúria contra as rochas num dia de tempestade, ou ainda, em acalmia, sereno… tudo é tão volátil. 
As palavras brotam do silêncio como as notas numa escala musical, e eu escuto! Eu sou o instante, volátil! O silêncio é uma coisa! E se eu me calo... o silêncio falará baixinho. Quando o silêncio fala baixinho vem o escuro, e com ele o medo, as trevas, e nas asas do breu me vejo cercada... confusa...
Feita um instante, soergo-me e dou o compasso... não deixarei que me vençam!
A Lua ilumina a minha noite no silêncio esplendoroso das coisas, e estas bailam ao som das poesias coloridas como borboletas em torno das flores! 
Hoje, a caneta preta habitual não me é de serventia... Parada, inútil por entre os meus dedos...
Olho, estática, a folha de papel, lisa e branca...
Sinto o cheiro do papel virgem onde me quero derramar, ao qual me quero entregar, e a caneta parece só querer escrever saudade, escrever tristeza, escrever receios e medos, escrever dor...
Nego-lhe essa vontade e ponho a caneta de lado... hoje não vais ser a minha companheira,  pegarei em ti novamente quando me transmitires esperança, confiança, coragem...
Pego nos meus lápis de cor e com eles pinto as palavras mais tristes com as cores mais alegres.
A "lágrimas" pinto de rosa; a "dor" pinto de vermelho; a "tristeza" pinto de azul; a "incerteza" pinto de laranja... reservo as restantes cores.
Desenho o meu sentir no papel ao som das letras coloridas...
Pinto a minha vida com as cores que tenho no coração...
Quero vestir a palavra "solidão" de verde, cor que tinha de reserva...
Quero transformar o negro do "medo" e o roxo da "ansiedade" no lilás, ou no alfazema e por eles deixar entrar a Luz.

Quero inventar uma cor nova para a "coragem"...
Quero um novo significado para volátil, porque o que é agora não o é no instante que se segue.

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